Entrevistas

Bate papo com Jotagá Crema um dos criadores da Série 3% da Netflix

Hoje começamos uma série de bate-papos com profissionais do audiovisual para contar um pouco sobre suas experiências e dar algumas dicas para quem está começando. E para abrir a conversa, convidei o Jotagá Crema, um dos criadores da primeira série brasileira da Netflix!

Quem é Jotagá Crema? Diretor e roteirista formado em audiovisual pela USP, foi um dos desenvolvedores da série 3% em parceria com a Boutique Filmes. Foi diretor da série “O Zoo da ZU” e é um dos criadores de “Cinelab”, também fez o desenvolvimento e roteiro da série “S.O.S Fada Manu” que foi indicada ao Emmy Kids Internacional, criou, roteirizou e dirigiu a série “Experimentos Extraordinários” e foi um dos criadores da animação “Papaya Bull”. Além disso, está desenvolvendo novas séries, atua como consultor de projetos e dá aulas sobre roteiros e desenvolvimentos de séries. Bora conferir o bate-papo!

3% foi a primeira série Original Netflix Brasileira, conta como um pouco sobre como foi esse processo, hoje você faria algo diferente?

 O projeto da série 3% começou no 4º ano de faculdade, eu participava de um coletivo em uma produtora chamada Maria Botina Filmes. Na época tinha um festival do FICTV do Ministério da Cultura que tinha como tema juventude. E o Pedro Aguilera teve a ideia de fazer o 3%, esse processo de jovens. Aí juntamos eu, o Pedro Aguilera, a Daina Giannecchini e a Dani LIbardi, e fizemos o desenvolvimento da bíblia da série. Conseguimos ganhar o edital e com isso, fizemos o piloto da série. Mas, infelizmente, não conseguimos ganhar o edital para fazer a série. Então, decidimos colocar o piloto no YouTube e a partir daí, fizemos uma divulgação de guerrilha do projeto em sites e redes sociais.  

Começamos a desenvolver o projeto em 2009, filmamos em 2009, finalizamos em 2010, subimos no YouTube em 2011 e conseguimos fechar com a Netflix em 2015 e estreou em 2016 e durou por 4 temporadas até 2020. Todo o projeto audiovisual é vivo, é difícil falar sobre qualquer mudança. Eu acho assim, o 3% foi um grande aprendizado, com todas as suas qualidades e todas as suas dificuldades. Então, o aprendizado é sempre mais importante, do que pensar em erros e acertos do processo.  

Quais foram suas inspirações para desenvolver a série?

 A inspiração da série a princípio foi do Pedro Aguilera, quando ele estava desenvolvendo, ele estava lendo os livros 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. A partir dessa mistura, surgiu a ideia do 3%, já que o edital tinha como tema a juventude, das classes C,D e E.

Depois no desenvolvimento da série, eu a Dana e Dani trouxemos outras referências, a série Lost que foi muito importante, Breaking Bad, o livro o Processo de Franz Kafka, tanto o filme como o livro do Orson Welles, sobre o processo que é muito interessante e complexo visualmente. Metrópolis do Frits Lang, o Experimento da Prisão de Stanford e tem o filme também que se chama o Experimento, que é alemão, que também era uma referência forte pra gente.

Depois, quando começamos a desenvolver a série, surgiram outras referências, o César Charlone como diretor-geral trouxe a experiência dele como fotógrafo do filme Cidade de Deus e do Ensaio Sobre a Cegueira, o Distrito Nove e o Elisium acabaram se tornando referências estéticas também.

Tem algum trabalho que é o seu queridinho? Porquê?

 É engraçado né, o trabalho que é o queridinho é sempre o que você está fazendo agora. Estou trabalhando em uma série de terror em parceria com uma outra roteirista que é a Mariana Tomé. Estou adorando escrever a série e ela se chama Perdidos, já ganhamos um prêmio no Ventana Sur na Argentina, fomos selecionados para o Torino Film LAB e agora a gente vai para os Series Mania lá na França pra desenvolver também.

E também estou desenvolvendo um outro projeto que é uma série de ação que se chama Dia de Pagamento, junto com o Lucas Abraão que é um grande parceiro. Ambos os projetos são os meus queridinhos do momento!  

Olhando para sua trajetória Jotagá Crema, existe algo que foi essencial para você chegar aqui? (Tipo prêmio, oportunidade, sabe aquela coisa que viro a chave e mudou tudo?)

 Ah eu acho que são um conjunto de oportunidades que a gente vai tento ao longo da vida, é difícil nomear só uma. Mas, eu sinto que durante a faculdade de audiovisual, tivemos um exercício, que gerou um vídeo de Matrix de Baixo Orçamento que acabou viralizando e aí eu tive essa oportunidade junto com os meus colegas de formar um coletivo na Maria Bonita Filmes e isso acabou gerando o desenvolvimento do 3%, que foi uma grande porta de entrada no mercado de séries, tanto no 4º ano de faculdade, como anos depois quando virou a primeira série original brasileira da Netflix.   

A segunda virada que foi muito importante pra minha vida e para minha carreira foi ter trabalhado para a Boutique Filmes. Eu trabalhei fixo lá por 3 anos, antes dos 3% rola e quando a Maria Bonita Filmes não produziu, o pessoal da Boutique Filmes pegou o 3%, o Thiago Melo que é um dos produtores executivos queria muito fazer a série desde que estava na Maria Bonita. Aí ele assinou com a gente, assumiu o projeto, fez a produção, negociou e fechou com a Netflix. Então, meu trabalho na Boutique Filmes e a parceria com eles foi fundamental na minha carreira.   

Um filme ou série que você gostaria de ter escrito?

 Vou falar de duas séries que eu amei e gostaria de ter escrito. Primeiramente, é a Amiga Genial, que é adaptada dos livros da Elena Ferrante, tá na HBO Max como My Brilhant Friend. Essa série é incrível, é maravilhosa a fotografia, a direção, a adaptação dos livros e os roteiros são muitos bons!

De filme, eu sou muito muito fã da Matrix, eu adora o Matrix, eu não gosto das continuações e o quarto filme eu não curti muito, eu gostei da metade do filme e da outra metade já não gostei muito. Mas essa coisa do Matrix de redefinir uma época, conseguir condensar o fim dos anos 90 ali, o início da internet, do que virou e trazer essa coisa da realidade que é uma mentira, da gente viver em uma simulação, isso é incrível! Essa força que o audiovisual tem é espetacular, eu adoraria ter feito o Matrix, escrever o Matrix seria uma coisa genial de fazer!

Quais trabalhos que você está desenvolvendo no momento Jotagá Crema?

 Basicamente, estou fazendo essas duas séries que citei anteriormente, o Dia de Pagamento e Perdidos. Estou fazendo bastante consultoria, de vários projetos diferentes, eu adoro fazer consultoria, tô dando aula e também estou conversando sobre trabalho de direção com alguns produtores. Eu gosto de fazer muito os dois lados, tanto o roteiro como a direção, integrar as duas coisas.

Você atua como diretor e roteirista, se pudesse escolher apenas uma função, qual seria e porquê?

Pra mim o roteiro e a direção são muito íntimos, eu sinto que cada vez mais eu não quero escolher uma, porque, na verdade, eu gosto de transformar às duas em uma coisa só. Porque eu penso na obra do audiovisual do ponto de vista criativo, de contar essa história. Então, eu gosto muito de participar das duas etapas, tanto no roteiro em que você tem a gênesis da ideia, que você desenvolve, que você escreve, que você reescreve, muitas vezes. Quando a direção que é você concretizar em imagens aquilo, que é você ter um conceito para produção fazer o trabalho. Quanto também, você estar na pós, na edição, na montagem, nos efeitos, sabe para mim, é tudo muito integrado.

Então, na verdade, antes eu até separava um pouco mais, mas eu prefiro pegar trabalhos em que eu faça os dois mesmos, mas os dois como uma coisa só. Tipo assim, eu tô tomando conta desse projeto, do início ao fim, eu estou contando essa história, estou construindo esse universo, esse mundo e eu estou cuidando do início ao fim. Como se fosse uma coisa só o roteiro e a direção, é assim que eu vejo.     

Jotagá Crema

Você tem um processo criativo para desenvolver suas histórias?

 Eu tenho uma metodologia que eu passo nas minhas aulas, inclusive você já assistiu uma aula minha, eu passei os métodos criativos. Mas ao mesmo tempo para criar as ideias, os projetos eu sinto que cada projeto é um projeto. E uma coisa que eu aprendi e que me sinto mais confortável, que é uma coisa minha, eu gosto muito de escrever em dupla.

Então, depende muito de qual pessoa eu estou trabalhando junto sabe, tem gente que gosta de criar a partir do mundo e depois criar personagens e pensar na história. Tem gente que é ao contrário, a partir dos personagens começa a criar esses conflitos e tal, aí começa a desenvolver esse universo, esse mundo e gênero.

Ou a partir de uma ideia ou de um tema você começa a criar uma história, a partir de uma imagem, sabe. Cada dia mais eu estou aberto a diferentes inspirações e a diferentes parcerias e diferentes metodologias, já que as ordens acabam mudando. Lógico que eu tenho uma metodologia, que é a que eu passo em aula, nos meus cursos, mas a ordens que eu faço as coisas e as origens das ideias e da construção de mundo varia muito.

Jotagá Crema, tem alguma dica para quem está iniciando na carreira?

A minha dica para quem tá iniciando na carreira é, estudar muito. Não tenha a ilusão que para entrar no audiovisual não é preciso estudar. Porque para qualquer área do audiovisual se você quer encontrar maestria, ser uma referência. Conseguir fazer grandes trabalhos inovadores e quer se expressar, tem que estudar mesmo.

Tem que fazer faculdade, fazer pós, sabe, tem que encontrar sua turma, ter parcerias com outras pessoas da área, encontrar pessoas que façam colaborações, que ajudem. Até mesmo, parceiras criativas, se você não gosta criar de forma coletiva, tenha alguém para revisar, pra trocar ideia sabe. Isso é importante porque o audiovisual é muito fechado, tem muitas panelas e depende muito da confiança né. Então, é muito importante você ter essas parcerias, esse grupo, tanto para se desenvolverem mutualmente. Tanto para quem entrar no mercado ajudar o outro, essa cooperação é muito importante. Para quem quer entrar na área de roteiro, estudar muito, praticar muito roteiro e achar sua turma!

Quer ter uma consultoria ou convidar o Jotagá Crema para cursos, entre em contato pelo Instagram Jotagá Crema.

Quem personalidade do audiovisual você gostaria de conhecer um pouco mais? Deixa nos comentários!

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