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“Quem Matou Odete Roitman?” — Como um Mistério Transformou a Teledramaturgia Brasileira

“Quem Matou Odete Roitman?” — Como um Mistério Transformou a Teledramaturgia Brasileira

🕵️‍️ “Quem Matou Odete Roitman?” — Como um Mistério Transformou a Teledramaturgia Brasileira

O crime que parou o Brasil

Em 1989, uma pergunta dominou o país: Quem matou Odete Roitman?
A morte da vilã interpretada por Beatriz Segall em Vale Tudo tornou-se um fenômeno nacional. Mais do que um acontecimento televisivo, o caso foi um exemplo clássico de storytelling bem construído, capaz de unir o Brasil inteiro em torno de um único enigma.

Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, a novela atingiu números que até hoje impressionam: mais de 80 milhões de espectadores e 96% de audiência no capítulo final — recorde histórico da televisão brasileira.

O assassinato de Odete Roitman foi exibido em 24 de dezembro de 1988, no capítulo 193 de Vale Tudo.
A revelação da assassina — Leila, interpretada por Cássia Kis — aconteceu no último capítulo, exibido em 6 de janeiro de 1989.

Durante esse curto intervalo, o país mergulhou em teorias, apostas e discussões acaloradas. O “quem matou?” virou assunto nacional, estampando manchetes e dominando conversas em bares, redações e salas de aula — um retrato perfeito do poder do suspense e da força do roteiro na cultura popular brasileira.

O impacto narrativo de “Vale Tudo”

O sucesso de Vale Tudo não se deve apenas à morte de Odete Roitman, mas à forma como o roteiro construiu o mistério.
Cada personagem tinha motivos, segredos e contradições, e o público era conduzido a duvidar de todos.

Essa técnica é conhecida como “whodunit” (do inglês who done it? — “quem fez isso?”), uma estrutura clássica do gênero de mistério usada por autores como Agatha Christie e explorada em séries modernas como Only Murders in the Building e Twin Peaks.

Em um whodunit, o roteirista cria uma teia de tensão onde tudo é pista — e nada é por acaso. O público é transformado em detetive emocional, participando da investigação enquanto tenta prever o desfecho.

A anatomia de um mistério perfeito

Todo bom mistério segue uma estrutura que equilibra lógica, emoção e curiosidade.
Abaixo, os principais elementos que tornam uma narrativa impossível de largar:

1 – O Crime
O ponto de partida é sempre um evento que quebra a ordem natural — um assassinato, um desaparecimento, uma traição. Ele acende a pergunta que moverá toda a trama.

2 – O mundo antes do crime
Antes da tragédia, o público precisa entender o cotidiano dos personagens. É nesse “antes” que se planta o conflito e a motivação de cada um.

3 –  Os suspeitos
Cada personagem precisa parecer tão culpado quanto inocente. O roteirista espalha pistas falsas, contradições e pequenos detalhes que confundem o espectador.

4 –  O público como investigador
O segredo do sucesso está em envolver o público. Ele precisa sentir que pode resolver o caso — e que o roteiro está sempre um passo à frente dele.

5 –  A revelação (payoff)
O final ideal é aquele que parece inevitável, mas ainda assim surpreende. O público precisa pensar: “Como não percebi antes?”.

6 –  A verdade emocional
No fim, o mistério não é sobre o crime — é sobre as pessoas.
O público quer entender por que algo aconteceu, não apenas quem fez. É a dimensão humana que transforma o enigma em arte.

O mistério renasce: o remake de 2025

Mais de três décadas depois, o remake de Vale Tudo mostrou que o poder dessa narrativa continua intacto.
A nova versão reacendeu o fenômeno: “Quem matou a nova Odete Roitman?” se tornou uma das hashtags mais comentadas do ano, com mais de 100 milhões de visualizações no TikTok e debates diários no X (antigo Twitter).

Mesmo em um mundo dominado por redes sociais e consumo rápido, o público ainda se deixou levar pelo mesmo jogo de pistas, emoções e teorias — prova de que o whodunit é atemporal.

Por que o “quem matou” continua funcionando?

Porque o mistério é o motor de toda boa história.
Mesmo fora do gênero policial, o público quer descobrir, antecipar, entender e se surpreender.
O “quem matou?” pode se transformar em:

  • “Quem traiu?” (romances dramáticos)
  • “Quem mentiu?” (séries de comédia ou sátira)
  • “Quem sumiu?” (ficção científica ou fantasia)
  • “Quem vai mudar primeiro?” (dramas psicológicos)

Em todos os casos, o que prende o público é a tensão entre o que se sabe e o que ainda falta descobrir.

Do crime à emoção: o mistério em todos os gêneros

O que Vale Tudo, Bridgerton, Dark e Beleza Americana têm em comum?
Todas exploram a curiosidade humana como gatilho narrativo.

  • Nos romances, o suspense é emocional: “Quem vai se entregar ao amor primeiro?”
  • Nos dramas, o mistério é interno: “Quando o personagem vai encarar sua própria verdade?”
  • Na fantasia e ficção científica, ele é cósmico: “O que existe além do mundo conhecido?”
  • Na comédia, a dúvida é cômica: “Quem vai descobrir o segredo?”

O formato muda, mas a base é a mesma: uma boa história é sempre uma investigação.

O legado de Odete Roitman

Mais do que uma vilã icônica, Odete Roitman se tornou um símbolo de como o roteiro pode moldar o imaginário coletivo.
A pergunta “Quem matou Odete Roitman?” ultrapassou a novela e entrou para o vocabulário popular, usada até hoje em memes, debates e manchetes.

Ela provou que o mistério é universal: pode prender um país inteiro diante da TV em 1989 ou milhões de pessoas nas redes sociais em 2025.

No fim das contas, a verdadeira resposta é simples:
👉 O que matou Odete Roitman foi um roteiro brilhantemente escrito.

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