Entrevistas

Bia Crespo dá altas dicas para o LAB 51!

Hoje é dia de bate papo! E a nova convidada de hoje é a Bia Crespo!

Bia Crespo TDC Conteúdo

Para quem não conhece, Bia Crespo (@abiacrespo) é a sócia-fundadora da TDC Conteúdo (@tdcconteudo), roteirista e produtora, tem mais de 10 anos de carreira, escreveu 8 longas para cinema e 3 séries para TV e streaming!

Alguns filmes que ela escreveu: “A Sogra Perfeita”, lançado em 370 salas de cinema em 2021, “10 Horas Para o Natal”, vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e do Prêmio ABRA de Roteiro na categoria Infanto-Juvenil, “Galeria Futuro”, lançado nos cinemas em 2021, e a série “Rensga Hits!”, prevista para ir ao ar em 2022 na Globoplay, além de 5 outros projetos em produção para serem lançados nos próximos anos.

Em parceria com a galera do Writer´s Room (@writersroom51), a Bia desenvolve o LAB 51, que é um núcleo de desenvolvimento de projetos de longas e série que está na sua 3º edição!

Nesse papo ela contou um pouco sobre sua trajetória e deu altas dicas para quem vai participar do LAB 51 que abre as inscrições dia 01/03!

Quem é Bia Crespo e como tudo começou? (Fale um pouco sobre você, sua carreira como roteirista e como a TDC Conteúdo surgiu)

Trabalho com audiovisual há mais de 10 anos, desde antes de terminar a faculdade. Estudei Audiovisual e sempre soube que queria fazer filmes para o grande público. Comecei como assistente de produção, cuidando de orçamentos, infra-estrutura, contratação de equipe, locações, alimentação do set de filmagem. Isso me deu uma visão muito global do que é preciso para fazer um filme ou uma série.

Em 2015, decidi que queria mesmo era contar histórias. Sempre gostei de escrever, mas nunca tive tempo para me dedicar aos meus projetos. Juntei um dinheiro do meu trabalho como produtora e fui fazer um curso de roteiro de 1 ano na Vancouver Film School. Em 2016, voltei pro Brasil e fui trabalhar como assistente de conteúdo na Paris Filmes, graças aos meus contatos da época da produção, mostrando o valor do networking nesse mercado.

A partir daí, tive um aprendizado sólido do que é ser roteirista no Brasil. Pude acompanhar a gênese dos projetos, o desenvolvimento, a filmagem, a edição e o lançamento. As pesquisas de público. Isso me deu uma visão muito boa de quais projetos funcionam, do que o mercado está pedindo. Assim, em 2019, deixei a Paris para trabalhar exclusivamente como roteirista freelancer. Já foram mais de 8 longas e 3 séries escritas. Sou muito feliz hoje em dia com meu trabalho.

Maior perrengue como roteirista e maior realização.

Os perrengues mais clássicos são os atrasos de cachê, rs. Por isso é importante que os roteiristas freelancers sempre tenham mais do que um projeto em desenvolvimento, senão o fluxo de caixa mensal pára quando isso acontece. O maior perrengue que vivi foi com uma produtora que queria tudo diferente do que foi combinado, discordando até do player, que é quem financia o projeto. Eu eu lá no meio do fogo cruzado… Além disso, pagavam super mal e, para completar, ainda atrasavam cachê. Foi triste porque era uma ideia original minha e no fim tive que pedir demissão, afinal não trabalho de forma alguma em condições desrespeitosas. 

A maior realização com certeza foi a estreia dos meus filmes no cinema. Vivi essa experiencia com 10 Horas Para o Natal, A Sogra Perfeita e Galeria Futuro. É bom demais ver as pessoas na sala rindo das piadas que você escreveu, se emocionando com a história que você construiu.

Para que quiser ver 10 horas para o Natal está disponível na Amazon Prime, super recomendo.

Qual é o segredo para escrever comédias familiares tão perfeitas?

Escrever perfeito ninguém escreve, né? rs. Mas eu sou muito satisfeita com meus filmes e tenho segurança sobre meu trabalho. Acho que a confiança na nossa escrita é o primeiro passo. Existe uma linha tênue que separa a segurança da arrogância, mas é possível encontrá-la. Síndrome de impostor é muito comum entre roteiristas, porém isso não tá com nada. Temos que acreditar em nosso trabalho ao invés de ficar nos autodepreciando. Se a gente não acreditar, ninguém vai acreditar por nós. É uma carreira solitária.

A segunda coisa complementa a primeira: saber ouvir e filtrar feedbacks. Quem escreve pra grandes players, pro grande público, tem que entender que precisa agradar bastante gente. Esses filmes tem altos orçamentos e quem paga é quem manda. Não adianta querer fazer uma obra autoral e ficar batendo boca com o player. Também não precisa fazer tudo que eles mandam. Escolha suas brigas e defenda o que é não-negociável pra você. Eles são muito mais maleáveis do que se imagina, afinal te contrataram porque confiam na sua visão. Mas a conclusão é essa: filme bom é filme escrito com gente por perto.

Bia Crespo em sala de roteiristas

A TDC conteúdo é voltada para projetos comerciais, o que é um projeto comercial e o que você considera essencial nesse tipo de narrativa?

Projeto comercial, em geral, é aquele voltado para o grande público. O máximo de gêneros, idades e classes sociais possível. Comédias familiares, comédias românticas, dramas leves, melodramas… Basicamente tudo que dá pra ver em família e vai agradar praticamente todo mundo, da sua avó até seu tio conservador, passando pelo primo militante e pela caçula que mal sabe ler ainda. Eles tratam de temas comuns à maioria e procuram não tocar em assuntos muito polêmicos.

A grande diferença entre os projetos comerciais internacionais e os brasileiros é que lá fora os orçamentos são muito maiores. Então é comum você ver fantasias, aventuras e ficções científicas e dramas de época entre sucessos comerciais. No Brasil, o que mais faz sucesso é comédia, porque tem um bom custo-benefício de investimento. Na dúvida, procure quais são as maiores bilheterias e quais são as obras nacionais mais assistidas nos streamings. Esses são projetos comerciais.

Inclusive, a Bia falou um pouco mais sobre esses projetos comerciais nessa matéria do Writer´s Room.

Um dos focos principais da TDC Conteúdo, é auxiliar novos roteirista a entrar no mercado de trabalho. O que você acha que está faltando na formação dos novos roteiristas? E quais dicas você poderia dar para ajudar nessa preparação para entrar no mercado de trabalho?

O que mais sinto falta nos roteiristas estreantes é a visão de mercado. Acredito que os cursos focam muito em autoria, em visão do roteirista, mas não os preparam para executar ideias alheias ou trabalhar com gêneros mais populares. Todo mundo quer fazer o próximo Breaking Bad, Sopranos, Euphoria… E isso não é condizente com nossa realidade. Raríssimas vezes conheci roteiristas que queriam escrever comédias pipoca como Minha mãe é uma peça, ou séries populares que tem uma pegada mais novelesca. Isso vende em um segundo. Quem pretende viver de roteiro no Brasil precisa saber escrever o que é feito aqui em grande escala. E, além disso, precisa saber que possivelmente não vai começar a carreira vendendo uma série original, mas sim trabalhando como assistente e depois como roteirista por anos até chegar lá.

Minha dica principal seria acompanhar a produção nacional pra entender as possibilidades de mercado. Outra dica é tentar trabalhar em outras áreas do audiovisual, como produção, arte, edição, assistência de direção. Isso traz um diferencial no conhecimento e ajuda no networking. Acima de tudo, saiam da teoria e comecem a praticar. Escrevam sempre, com variedade, e não fiquem só trabalhando naquele mesmo projeto.

Olha a dica da @carolsantoian sobre escrita, vale a pena!

O LAB 51, está na sua 3º edição, e desde que o projeto nasceu, ele já se tornou um sucesso! Conta um pouco dessa experiência que você tem vivido com o pessoal do Writer´s Room.

Eu sempre falo pro Gui e pra Jéssica do WR51 que esse Lab me traz vida! rs. Brincadeiras à parte, eu realmente me encontrei dando essas aulas. Os cursos são bem práticos, baseados em experiências que vivi e no que sei que acontece no mercado. Eu diria que esse é o grande diferencial. Não vou ensinar nenhuma teoria de roteiro, nem sou qualificada pra isso. Mas vou contar o que vivi, o que aprendi, e o que gostaria de transmitir pra que os novos roteiristas já cheguem mais maduros. Mesmo com minha rotina pesada de trabalho, dar essas aulas me deixa feliz e bem mais leve. É algo que não pretendo parar de fazer tão cedo.

LAB 51 desenvolvimento de longa-metragem.

Nas edições anteriores, quais erros acabaram desclassificando os projetos?

Eu não chamaria de erros, afinal o que não se adequa ao Lab51 pode muito bem ser o encaixe perfeito em outro curso ou laboratório. Espero que as pessoas tenham isso em mente quando não forem selecionadas. Não existem projetos ruins, apenas projetos que não eram para aquela seletiva.

O que mais desclassifica as pessoas é justamente a falta de compreensão do que é comercial. Eu já falei sobre isso em diversas matérias e podcasts, mas faço questão de repetir pra tentar ajudar, como fiz aqui nessa matéria. O curso é voltado pra projetos comerciais porque praticamente não existem concursos e editais que valorizem esse tipo de projeto, enquanto projetos autorais tem portas abertas em diversos outros lugares. Prestem atenção se o seu projeto se enquadra na busca pelo grande público, pelos gêneros populares, pelo que é feito em massa no Brasil.

Outro erro bastante comum é a falta de atenção na leitura do regulamento. Nas edições anteriores, pedimos sinopses com começo, meio e fim da história, e muita gente mandou sem desfecho. Dessa vez pedimos apenas a storyline, então não precisa contar como termina porque vamos desenvolver juntos. Mas prestem atenção no regulamento, pois lá tem todas as informações necessárias para uma inscrição bem-sucedida.

Que tipo de projeto fazem seus olhos brilharem?

Quando a pessoa entende o que é comercial, coloca elementos contemporâneos e adiciona também algo original que nunca foi feito antes. Isso pra mim é o máximo. São esses projetos que vendem rapidamente, como já provei pessoalmente e também pela TDC.

Por exemplo: 10 Horas Para o Natal é um filme clássico de natal, dentro do formato que vimos muitas vezes nos filmes americanos, porém com alguns toques especiais originais, como a família divorciada, a 25 de março… Foi um filme que vendi apresentando só a sinopse. As pessoas acham que os players procuram coisas super desenvolvidas e até mesmo roteiros, mas, se o conceito é forte, a venda é mais fácil. Por isso que decidi mudar o critério desse Lab51 e pedir apenas a storyline — o resto a gente corre atrás durante o lab! rs

Como escrever uma boa storyline?

Eu não sou especialista em teoria, então pra mim não tem certo e errado, mas acho que o principal é apresentar com clareza quem é a protagonista, qual é o conflito e porque isso complica a vida dela. Isso é o que me mostra o potencial de uma história. Basicamente quero que me provem que essa história consegue render um filme. É importante colocar a idade das personagens citadas e o local, se for importante pra história. Mas não apresente muita gente, só os essenciais mesmo, senão fica uma confusão de nomes.

Deixo aqui um exemplo, usando ainda o 10 Horas para o Natal:

Julia (12), Pedro (9) e Bia (6) só queriam ter uma ceia em família, mas seus pais separados não dão trégua nem mesmo no natal. É aí que surge uma ideia: sair pela cidade para organizar a ceia eles mesmos, em 10 horas, a tempo da mãe chegar do trabalho. O problema é quando o pai descobre o plano e decide ir atrás das crianças para impedi-las…

Dicas para quem vai participar da 3º edição do LAB?

Leiam o regulamento! rs. Eu insisto porque é importante. Leiam, releiam, e perguntem se tiverem dúvidas. Esse ano vamos ter uma novidade na inscrição: pedimos 5 páginas de um roteiro original, podendo ser uma ideia que você criou, um episódio de série que já existe, ou um curta-metragem. Isso é para gente ver se o roteirista conhece formatação, se tem experiência com softwares de roteiro. Isso é essencial porque, se a TDC vender esse projeto futuramente, eu preciso saber se a pessoa está apta a participar de uma sala de roteiro ou escrever um longa, e esse é o requisito básico para iniciar no mercado de roteiro.

Portanto, apesar de a storyline ser curtinha, tem esse trabalho extra das 5 páginas. Eu sugiro que as pessoas já vão preparando esse material para poder revisar e inscrever com calma. Sou super rígida com erros de digitação ou formatação — é trabalho do roteirista revisar tudo que escrever. Não deixem nada pra última hora. Eu mesma nunca deixo e posso falar com propriedade que aumenta a qualidade do meu trabalho. Escrevam, deixem um tempo de molho, voltem, releiam e editem. Depois revisem de novo e só então mandem. Boa sorte a todos!

Para quem não sabe sobre o que é o LAB 51 ou como funciona, confere a entrevista que fizemos com o pessoal do Writer´s Room, lá tem mais dicas e informações!

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